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sábado, 16 de julho de 2011

Tédio, Kung Fu e o nada...

"Ficar parado" é o mesmo que fazer nada ?


Bem, terça feira, dia 12 de julho treinei Kung Fu às 19h.
Fiquei para fazer Chi Kung às 20h. Meu corpo estava bem, mas meu espírito cansado. Odiei treinar naquele dia. Cada soco, cada chute, cada "forma" parecia um inferno.
Detestei cada exercício que o Moacir (com a maior boa vontade do mundo, diga-se desde logo) passava. O problema era comigo mesmo. Treinei "xoxo". Nem suei.
 Mas cumpri o que havia me disposto a fazer: treinar Kung Fu naquela noite.
 Então, fui à aula seguite, o Chi Kung. Achei que ia ser outra saraivada de movimentos, posições horríveis, dores pra todo lado. O Sifu Luis Mello ministrou a aula.
 Apagou as luzes, acendeu as velas, o incenso e todos, em fila, ficamos simplesmente com as mãos postas há 4 dedos abaixo do umbigo. Olhos fechados e só. Depois, após algumas respirações profundas, ficamos na posição da árvore (em pé, joelhos levemente articulados, pernas separadas, braços à frente como que abrançando a uma árvore).
 E foi assim até o final do treino. Aboslutamente parados.
 Não precisa dizer que os ombros pareciam que estavam sendo espetados por agulhas, mas aguentei. Nem sei dizer quanto tempo ficamos.

Mas, ficamos parados... parados... apenas... parados.

Nas milhares divagações da minha mente, lembrando o que aconteceu no dia, no passado, lembranças de várias passagens de minha vida, lembranças, lebranças e mais lembranças, um facho de iluminação surgiu.
 Porque destestei treinar naquele dia?

Tédio... por puro tédio.
Mas, a vida é tédio. A novidade, o choque, o diferente, é exceção. Não é natural. Natural é que o sol sempre nasce e morre, todos os dias, até quando a eternidade quiser, sempre o mesmo, sempre o tédio. A variação das coisas, mesmo assim, são iguais.
Chuva, sol, calor, frio, sempre ocorrem. Nada de novo debaixo do sol. Não podemos pensar que podemos fugir do tédio mediante coisas novas. Fugimos do tédio mediante a disciplina e a persistência. Fazer algo que queremos e devemos, ainda que sintamos tédio. Assim não fosse, a disciplina, a paciência e a perseverança não teriam razão de ser.
O novo vem após a repetição do velho e não da fuga dele. O tédio é a regra, a novidade, a exceção.
 Não podemos viver a vida toda querendo a novidade, isso é anormal, é doentio. Ficar parado, não é o mesmo que fazer nada.
Ficar parado é sentir prazer no que há de mais simples e mais singelo: o cotidiano.
 
Isso é Kung Fu.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Repousando na postura cavalo

"O mestre disse, aprender sem pensar é trabalho perdido;
pensar sem aprender é arriscado." ( Confúcio )

Após alguns anos praticando Kung Fu com o Sifu Luis Mello, percebi depois de cada palestra por ele ministrada, que nos exercícios físicos - alongamento e formas - o método recomendado para um bom rendimento é direcionar o pensamento para o vazio e saber utilizar adequadamente a respiração para suportar as dores musculares provenientes dos exercícios e movimentos ao longo do aprendizado, pois ele, o Kung Fu, é um estilo de vida.

Por exemplo, nas minhas primeiras e tantas aulas o exercício mais doloroso que, se eu pudesse evitar o evitaria, era o da resistência por ter que ficar por alguns minutos na posição do cavalo.

Para enfrentá-lo achava simplesmente que bastaria ter apenas bons músculos, força e tudo estaria resolvido em alguns dias, isto é, as minhas pernas deixariam de tremer, de doer e passaria a vontade de desistir. Por mais força de vontade que tive, não conseguia superar a dor e não ia até o final do exercício como os demais colegas.

Por conta disso cheguei a seguinte conclusão: de que não bastava apenas músculos resistentes, até porque músculo não pensa, teria que buscar conhecimento para entender como os colegas ficavam minutos e mais minutos sem reclamar e, ao completar o exercício, saiam com uma feição tranquila e serena e eu, ao contrário, estava moído para não dizer desmontado.

Como não conseguia vencer a dor por ignorância, resolvi compreender melhor o que vem a ser o vazio e o saber respirar, o que gerou um resultado quase imediato.

Hoje, depois de muitos exercícios não vejo a hora da resistência ( postura do cavalo ) para poder descansar um pouco, pois é neste momento de prazer que respiro melhor e armazeno energia para outros exercícios. A prática diária do Kung Fu, além de ser um estilo de vida, constitui-se numa eficaz ferramenta para a manutenção da saúde, equilíbrio e longevidade com qualidade de vida.

Jansen M Cavalcanti

sábado, 9 de julho de 2011

Ensinamentos de Shaolin


Seja ágil. Seja objetivo. Deve haver ritmo e coordenação.
O espírito tem que tudo dominar.
A perfeição das técnicas é imprescindível.
Seja firme sem ser duro.
Seja flexível sem ser mole.
Busque sentir a energia fluir por todo seu corpo.
Controle total deve ser mantido sobre si mesmo.
Seu corpo inteiro deve trabalhar em harmonia.
Não gaste energia desnecessariamente.
Concentre-se.
Potência, velocidade, técnica, equilíbrio, ritmo e espírito,
 devem fluir e trabalhar em conjunção perfeita.


Sifu Mello

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Estrada para Shaolin

                                                                                     A estrada para Shaolin é longa, muito longa,
   Encostas áridas e contínuos montes pelo
   caminho; a poeira voando alto.
Por quais razões voce vai até lá?
Com qual curiosidade, e quais sonhos?
A famosa Floresta de Stupas está tranquila agora.
   Vida eterna não vem necessariamente
   para aqueles que anseiam por isso.
Somente Songshan permanece sempre verde,
E os rios da montanha ainda fluem continuamente.
A estrada para Shaolin é tortuosa e íngreme.
   Por todo o caminho encontram-se homens e mulheres que vieram das quatro direções.


O que voce procura indo para lá?
Voce vai com fé ou vai com dúvida?


Grande mestres são raros como estrelas da manhã,
   Conquistar grandes realizações
   necessita grande sacrifício.
Olhe para as marcas dos pés deixadas na sala de treino,
Uma impressão profunda que cada passo deixou.
A estrada de volta é muito longa e também muito curta,
   A estrada de volta de Shaolin é tortuosa
   e também a mesma.
O que voce está pensando por todo o caminho?
A brisa é tão amena, o céu tão azul.
Uma gota de água não irá secar em um rio.
   Criatividade e sucesso, tudo começa
   com seu primeiro passo.
Limpe a impureza do seu coração, o corpo
   todo se torna leve e contente,
Somente junto ao contentamento de outras pessoas
voce pode encontrar seu maior contentamento.


Este é um poema moderno escrito por Yan Chen (1911) que é um dos melhores poetas
conhecidos na China moderna. suas obras foram traduzidas para o ingles, russo, japones, persa e coreano.
Cada pessoa pode ter suas proprias interpretações mas alguns termos podem auxiliar na compreensão do simbolismo profundo.
A floresta de stupas ou floresta de pagodes refere-se a uma grande coleção de stupas onde as relíquias ou cristais dos
restos mortais de grandes monges do passado foram depositados.
Songshan é o conjunto de montanhas no qual inclui a montanha Shaoshi onde o Templo Shaolin esta situado.
O tema geral do poema de que diferentes pessoas possuem diferentes aspirações assim como diferentes
comportamentos e resultados em sua busca pelas artes de Shaolin é bastante evidente. Qual é o significado
das linhas do poema - A famosa Floresta de Stupas está tranquila agora. Songshan permanece sempre verde,
E os rios da montanha ainda fluem continuamente? Por que o poeta diz que a brisa é tão amena, o céu tão azul?
Qua é a intenção em dizer que uma gota de água não irá secar em um rio? Talvez, o mais importante: como voce limparia a impureza de seu coração?
Que emoçoes e inspirações o poeta fez surgir em voce?


As quatro ultimas linhas do poema são muito inspiradoras.
As artes Shaolin promovem tanto a filosofia quanto
os métodos para atingir grande contentamento.


Cada pessoa irá interpretar diferentemente o que seja a impureza em seu coração, de acordo com seu próprio
nível de compreensão pessoal e desenvolvimento.
O kung fu Shaolin promove os princípios e a prática para nosso desenvolvimento físico, emocional, mental e espiritual, independente da religião que possamos professar ou da ausencia de alguma.
Ao descrever o mesmo progresso em diferentes termos, as artes de Shaolin nos capacitam a atingir o máximo de nosso corpo
físico, do nosso corpo energético e de nosso corpo espiritual, através do kung fu, chi kung e zen.


Portanto, a partir da perspectiva de Shaolin, ao nível mais elevado, limpar a sujeira de nosso coração
é limpar a ilusão do fenomeno que nubla nossa mente, para que possamos ver a realidade transcendente em qualquer lugar.

Em termos do Zen, é ´voltar para casa´ ou ´ver nossa natureza original´.

A realização desse supremo nível espiritual conhecido como
 Zen ou Chan, pode ser obtido por
pessoas de qualquer raça, cultura ou religião.
Ao caminhar em direção ao sul,
não espere que vá chegar ao norte.
Songshan, mente alerta.
O rio flui num coração tranquilo.
Para percorrer a estrada para Shaolin
 é preciso dar o primeiro passo.


Texto: Wong Kie Kit

 Tradução livre: Rodrigo Conelheiro     E-mail

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sergio Binotti


"De repente aquela explosão do treino parou. Fazia uns 20 minutos que estávamos aquecendo, alongando, socando no ar, chutando...: Atenção, resistência no cavalo !
 
Soou resoluta a voz do Sifu. Parecia simples, era só abrir as pernas o suficiente para manter algo como 90 graus entre as canelas e as coxas e baixar o quadril encaixado para trás.
Olhos fechados, mãos postas à frente do rosto uns 30 centímetros. O suor começou a correr pelo rosto a pingo grosso. A respiração demorou para estabilizar.
As pernas queimavam, começaram a tremer, parecia que o corpo ia entrar em colápso... foi um inferno, tudo começou a doer, deu vontade de rezar o pai nosso, ami tofo, om mani padme hun, hare krsna,  o que iria me ajudar naquela hora ?!... nada, absolutamente nada.
 
Foi um momento que aprendi que de fato estamos a sós com nossas parcas forças. Não tinha jeito.
 
 
A verdade começou a aparecer, as ondas de dores iam e vinham , os pensamentos entraram em confusão, eu não sabia mais onde  concentrar a mente, não dáva pra fingir que não doía, não deu pra fugir, foi uma luta terrível, até que surgiu o real convencimento de que nada nem ninguém ia me ajudar. Tinha  que resistir com as forças de dentro de mim.
 
 
Por último, nesse estágio inicial (!!) o tempo começou a se relativizar. Pensei que tinha ficado quatro horas naquele sofrimento, procurando mover alguns milímetros que fosse aqui e ali para aliviar as dores ora nos pés, ora nas coxas, oras nos quadris, ora nos ombros... tudo sem sucesso, não tinha misericóridia, não havia alívio nenhum... quando então o Sifu resolutamente clamou "hip". Voltei à posição normal. Olhei no relógio. Passaram-se eternos, infindáveis e dolorosíssimos, 20 segudos (!!) Essa foi a minha primeira experiência da posição mais básica e comezinha do Kung Fu, o "cavalo".
Abraços!
 
 
 
 
 
Dr. Sergio Binotti
Cel - 96711391
binottiadv@uol.com.br

THIRZA BUENO


Segue meu relato.


Quando comecei a treinar, não tinha a menor noção do que era kung fu. Queria apenas praticar uma atividade física. No começo tudo era difícil, e alguns movimentos eu achava que nunca ia conseguir realizar. Mas nunca pensei em desistir, e quando conseguia fazer alguma das coisas que considerava impossíveis minha vontade de continuar e aprender mais aumentava. Ainda acho que praticar kung fu é difícil, e para aprender de verdade é preciso dedicação, disciplina. É preciso entender que quando se aprende um movimento, ele precisa ser praticado repetidas vezes antes de querer aprender outro. Minhas experiências com o kung fu têm sido de superação, de acreditar que os obstáculos podem ser ultrapassados. E isso acabou refletindo em outras áreas da minha vida, porque, sem perceber, mudei minha maneira de interagir com as pessoas, agora com mais autoconfiança.
Hoje o kung fu faz parte do meu dia a dia e penso que aprender essa arte marcial é um caminho a ser percorrido por toda a vida.